O fim de tarde chegou manso, arrastando nuvens cinzentas que se deitavam preguiçosas sobre o céu. A chuva começou de leve, primeiro um sussurro nas folhas, depois um tamborilar firme no telhado da varanda, como se o domingo quisesse se despedir em lágrimas. Havia algo de melancólico naquele som, talvez fosse o prenúncio da segunda-feira que já espiava pela fresta do tempo.
Do lado de dentro, o cheiro de café fresco se misturava ao da terra molhada que subia do quintal. Um cheiro de recomeço, de vida lavada. As horas pareciam se esticar, e o relógio, cúmplice da chuva, andava devagar. Era como se o mundo inteiro estivesse em pausa, num suspiro entre o descanso e a rotina.
Lá fora, as poças refletiam o brilho das luzes que começavam a acender. Crianças recolhiam os brinquedos esquecidos, e os pássaros procuravam abrigo sob as árvores. Aqui dentro, o pensamento passeava: o que virá na semana que começa? Quantas metas, quantas reuniões, quantos “depois eu vejo”?
Mas naquele instante, o som da chuva sobre o telhado da varanda era mais forte do que qualquer pressa. Havia algo de sagrado em ver o domingo se dissolver devagar, sem alarde. Um lembrete silencioso de que até o tempo precisa descansar antes de começar de novo.
Quando o céu escureceu por completo, restou apenas o som da água, cadenciado, constante, como um convite à serenidade. Amanhã, a cidade despertará apressada, os despertadores tocarão, e os compromissos se alinharão em fila. Mas por agora, tudo o que existe é esse instante: o fim de tarde chuvoso, o cheiro de café e a promessa de uma nova semana, limpa e fresca como a terra depois da chuva.
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